A vida toda sonhei em fazer algo lindo e grandioso. E acho que eu consegui: eu criei a Violet.

A criação de Violet e Philippe

Lembro-me de que a Violet apareceu em minha mente lá em 2017, mas ainda tinha o nome de Anne. Eu pensava em uma garota que brincava em seu jardim durante o outono e que era muito feliz. Na época, como acabo sempre fazendo, não dei atenção a ela.
Em 2018, mais precisamente em janeiro, a série anime Violet Evergarden estreou no Brasil e se tornou o meu anime favorito — e a maior inspiração para criar a Violet que vocês conhecem hoje.

Violet Evergarden foi minha maior inspiração, tanto na aparência da Violet quanto na época em que a história se passa.
Quando a aparência e o período foram definidos, estava na hora de criar todo o resto. Eu já imaginava a Violet como uma garota rica, com pais que não ligavam para ela, presa em um casamento arranjado. Foi aí que comecei a me inspirar no live-action de Cinderela (2015) — um dos filmes mais lindos que já vi — e pensei: por que não colocar um príncipe?

Então o Philippe nasceu. Nasceu com o propósito de mostrar à Violet a felicidade da qual sempre fora privada — de mostrar a ela que o amor não era o que ela pensava ser, que podia ser muito mais. O nome Philippe foi inspirado no próprio príncipe Phillip, de A Bela Adormecida e de Malévola (2014).

Como sempre comento em lives e entrevistas, quando criei o Philippe, a ideia de fazer um romance trágico surgiu na minha mente. Pensei, sim, em quebrar o coração da Violet e fazê-la muito triste, mas eu gostava tanto dela feliz que me pareceu cruel demais fazer isso com uma personagem que eu amava tanto. Então, escolhi fazer somente o melhor para ela.

Cheguei a escrever alguns pedaços dessa tragédia e guardo até hoje. Veja abaixo!

— Mentiu para nós! — Richard disse, furioso. — Perdeu seu casamento com Victor e agora mentiu sobre Philippe!

— Eu não menti! Eu juro! — Violet disse com lágrimas nos olhos, respirou fundo, sentou-se na cama, decepcionada. — Ele veio até aqui e pediu que eu fosse ao baile, disse que gostava de mim…

Em silêncio por um tempo, Richard suspirou e disse:

— Acho que você precisa de um tempo longe daqui, Violet. Para pensar sobre o que vai fazer com a sua vida agora — Richard olhou para a filha e nunca a tinha visto tão abalada pelo que havia acontecido. — Vá para a casa da sua tia.

Violet assentiu com a cabeça e pediu que seus pais saíssem de seu quarto, pois aquela noite tinha sido a pior de sua vida.

Assim que a porta se fechou, Violet foi até seu espelho e começou a desfazer o seu penteado, tirou lentamente todos os pingentes que nele estavam, tirou seu belo vestido, junto com toda a sua felicidade.

Quando se viu novamente no reflexo do grande espelho, nunca havia visto tanta tristeza em si mesma quanto naquele momento.

— Ele disse que nunca machucaria meu coração. 

O contexto para esse trecho seria o seguinte: depois de fazer Violet se apaixonar por ele, Philippe a trairia bem na sua frente — no baile de compromisso — logo após Violet ter encerrado o contrato de casamento arranjado com Victor, para se casar com Philippe.

Na noite do baile, tanto Richard quanto Amélia estavam felizes por saber que o príncipe queria se casar com Violet. Mas, ao chegarem ao evento, se deparam com a escolha de Philippe por outra princesa, deixando Violet completamente confusa e devastada com o que havia acontecido.
A partir disso, Richard e Amélia também perderam totalmente a confiança nela.

Trágico e triste, né? Eu sei... Ainda bem que escolhi fazer o bem pela minha Violet.

Os outros personagens de Querida Violet

No início, os pais de Violet — Richard e Amélia (a madrasta) — eram mesquinhos e mal lhe davam atenção. A verdadeira mãe de Violet, Isabella, havia morrido de uma forma super clichê e era totalmente deixada de lado por Richard, mas já tinha certa relevância para Violet e para os outros parentes.

Fun fact: só fui perceber anos depois que “Richard e Amélia” são os mesmos nomes dos pais da personagem Lara Croft.

Com o tempo, fui desenvolvendo a trama: o que Violet teria que fazer agora? Para onde deveria ir? Do que ela gostava? Então me lembrei de um desejo pessoal — o de aprender piano um dia — e decidi que Violet teria esse mesmo sonho.

Naquela época, eu sempre passava em frente a uma casinha perto de onde morava — era uma escola de música — e eu sonhava em estudar lá. Por isso, a Academia de Música que vemos em Querida Violet foi totalmente inspirada nessa casinha, assim como no meu sonho de aprender a tocar piano.

Foi nesse momento que introduzi outros personagens na história: a tia Lucinda e o primo Anthony. Inicialmente, tia Lucinda era irmã de Richard e Anthony, seu sobrinho — por isso ambos teriam uma aparência semelhante. Mas, com o tempo, percebi que fazia muito mais sentido Lucinda ser irmã da falecida Isabella.

Enquanto escrevia sobre esses personagens, no decorrer de 2019, me senti estagnada. Eu não sabia como finalizar a história. Tudo parecia tão bom e maravilhoso, mas, na minha cabeça, eu sentia que precisava adicionar um vilão à trama. Foi então que criei Edmond, o detestável XD.

Edmond foi totalmente inspirado em uma pessoa real, que naquela época foi muito importante para mim, mas também extremamente grosseira e tóxica — assim como o próprio Edmond. Querendo ou não, gosto muito desse personagem, pois, tanto nele quanto na pessoa que o inspirou, eu via um potencial de brilho enorme, encoberto por raiva e ódio. Pelo menos para o Edmond, consegui trazer um pouco de luz.

A repaginação de Querida Violet: mudei muita coisa!

Terminei de escrever Querida Violet em 2 de fevereiro de 2020. Eu amava aquela história e havia prometido a mim mesma que seria a minha primeira obra publicada. Mas, como vocês bem sabem, não foi exatamente isso que aconteceu XD.

Menos de 30 dias depois, comecei a escrever Coração de Escritora, uma história na qual me joguei de cabeça — e que acabou se tornando meu primeiro lançamento, em junho de 2021.

E a Violet? Foi deixada na gaveta por um bom tempo.

Terminei Coração de Escritora em 29 de agosto de 2020. Poucos dias depois, outra personagem surgiu na minha mente: Eliza Lewis.

Eliza é a protagonista de Capricho e Perfeição, o queridinho dos meus leitores. Escrevi sobre a Eliza por um bom tempo, e, em janeiro de 2023, Capricho e Perfeição foi lançado.

E a Violet? Ainda continuava esperando por mim.

No fundo, eu sabia que ainda podia tornar a história da minha Violet ainda melhor. E, felizmente, foi exatamente isso que fiz. Ainda bem que não me deixei levar pela ânsia de lançar o livro para o mundo sem antes transformar Querida Violet em algo ainda mais lindo e grandioso.

Depois do lançamento de Capricho e Perfeição, em 2023, bateu uma enorme saudade daquela história que eu já sabia que era especial. Lembro-me de mostrar o original para minha mãe e dizer: “Você ainda não leu esse! É ainda MELHOR que os outros dois!”. Ela não acreditava — dizia que gostava muito da Eliza — mas consegui convencê-la de que a história da Violet era ainda mais incrível!

Entre março e abril de 2023, entrei naquele estado de “maluquez” que acredito que todo escritor experimenta em algum momento: eu estava completamente imersa no processo criativo. Passava o dia inteiro escrevendo e reescrevendo, pensando e repensando, apagando o que não fazia sentido e adicionando novos contextos, dando ainda mais significado à história.

O resultado disso? Foi inacreditável.
A versão de 2020 de Querida Violet tinha apenas 54 páginas em um documento do Word. Já a versão de 2023 contava com 114 páginas no Word — uma adição de 60 páginas de pura história nova. O livro finalizado terminou com 172 páginas.

A nova Violet e nova história

Embora muita coisa da versão original tenha sido preservada, eu adicionei muitos elementos novos.

Agora, a minha Violet era um ser humano de verdade. Richard, seu pai, também. Todos os personagens passaram a ter sentimentos profundos e lutas internas. Estavam presos ao passado e precisavam se libertar — e lidar com as consequências de suas próprias escolhas. Todos choraram, sofreram, sorriram… e viveram, sim, o tão esperado “felizes para sempre”.

Antes, Violet era quase como uma boneca Barbie: perfeita, sem defeitos, 100% boa e gentil. Mas isso não fazia mais sentido para mim. Não importa onde você nasceu, com quem viveu ou como foi criado — ninguém é feliz o tempo todo. Ninguém passa ileso pelas dores da vida. Sempre vai haver algo que nos machuca. E com Violet, tanta coisa tinha acontecido... era óbvio que ela precisava sentir tudo isso.

Mas não era só ela.

Seu pai também.

Richard deixou de ser apenas o pai negligente que parecia não se importar com a filha, porque — na verdade — ele se importava. E muito!

Era essencial mostrar como a perda de Isabella afetava todos naquela família. Richard, tomado pela dor, tornou-se superprotetor e tomou decisões que mudariam completamente o futuro de Violet.

Violet, por sua vez, sabia pouco — ou quase nada — sobre sua mãe, já que seu pai nunca falava dela.
Amélia, a madrasta, apesar de amada, vivia com a sombra da memória de Isabella. Sentia que jamais estaria à sua altura… mesmo que, no fundo, nós saibamos que isso não é verdade.

No fim das contas, tudo se conectava à Isabella.

A partir daqui… você pode encontrar alguns spoilers! Cuidado! Você foi avisado!

Outras mudanças importantes

Outra parte da história que passou por mudanças importantes foi o final.

Na versão original, quando Violet recebia a proposta para integrar a companhia de música, ela recusava de imediato. Afinal, seu futuro agora seria ao lado de Philippe — e, quem sabe, com filhos. Essa era a visão que a Camila de 2020 tinha para o desfecho da história de Violet. E embora não fosse um final ruim… ele podia ser muito melhor.

Com o tempo, a história passou a girar em torno da independência de Violet, de sua busca por sonhos e felicidade. Ela já não era mais aquela garota que deixaria um convite tão grandioso para trás. Por isso, desta vez, ela aceitou fazer parte da companhia — se o tempo permitisse, claro (agora que fazia parte da corte do rei) — e desde que Edmond e Anthony fossem com ela.

A verdade é que esse novo final me deixou muito mais feliz. Porque, mesmo casada, Violet agora também seria livre. Livre para viver tudo aquilo que deseja.

Conclusão

Bom, isso é só uma parte do que foi o processo de criação de Querida Violet. Um livro que, em tempo corrido, levou mais de quatro anos para nascer.

A primeira fagulha surgiu em 2017, mas só comecei a escrever de verdade em 2018. Produzi até 2020, e foi só em 2023 que retomei a história com força total — reescrevendo, recriando e transformando o livro em algo muito maior do que imaginei.

Em agosto de 2023, enviei o manuscrito para a editora.

E no dia 17 de fevereiro de 2024… Querida Violet foi lançado para o mundo.

Querida Violet foi, até agora, a coisa mais linda e grandiosa que já escrevi.
Quem sabe um dia eu me supere, não é mesmo?

Quero deixar aqui um agradecimento muito especial ao revisor que leu Querida Violet durante o processo de edição. Suas palavras foram exatamente o que eu precisava ouvir para ter certeza de que essa história era, de fato, boa. Obrigada! Sem esse olhar atento e generoso, talvez eu não amasse a Violet tanto quanto amo hoje.

E, claro, meu mais profundo obrigada a você — leitor que já leu Querida Violet, ou que ainda vai ler, e que chegou até o final desse longo (mas feito com carinho) artigo. XD

Obrigada por fazer parte disso comigo.