Hoje o assunto pode render polêmica! Mas tudo o que você vai ler aqui vem da minha vivência no mercado literário brasileiro, além de conversas e trocas com outros autores ao longo desses anos.

Antes de mais nada, deixa eu me apresentar rapidinho:
Meu nome é Camila Seixas, tenho 24 anos e publiquei meu primeiro livro, Coração de Escritora, em 2021. Em 2023 veio Capricho e Perfeição, e em 2024, Querida Violet, meu lançamento mais recente.

Mas olha… antes de me tornar oficialmente uma escritora, eu não fazia ideia do quanto seria difícil viver disso no Brasil. Entrei nesse universo achando que tudo ia acontecer num estalar de dedos — que eu seria uma autora best-seller no dia do lançamento (ah coitada iludida).

Só que a realidade bateu à porta e mostrou que é uma jornada puxada, cheia de altos e baixos. Ainda assim, eu continuo, porque acredito que vai valer a pena. Porque, como já ouvi por aí — e carrego comigo desde então:

“Quem entende o propósito, suporta o processo.”

Os desafios

A verdade é que ser autor no Brasil é um baita desafio. E, sinceramente? Um dos maiores motivos é o preconceito que ainda existe com a literatura brasileira. Muita gente torce o nariz quando vê que o livro foi escrito por um autor nacional.

E eu falo com propriedade — porque já estive do outro lado. Durante anos, só comprava livros estrangeiros. Mas com o tempo, meu olhar mudou completamente. Hoje, leio e admiro profundamente a poesia brasileira, escrita por autores absolutamente INCRÍVEIS!

Esse pensamento de que tudo o que vem do Brasil é "menos", ou que é uma versão “barata” do que faz sucesso lá fora, é uma visão distorcida, preconceituosa e, acima de tudo, injusta.

Sim, vejo uma melhora acontecendo. A literatura brasileira tem ganhado mais espaço e reconhecimento. Isso me deixa esperançosa, mas também consciente de que ainda há um longo caminho até que ler autores nacionais se torne algo realmente comum, sem ressalvas.

E já que estamos falando de desafios, tem outro ponto importante: a tal da “concorrência” com os livros estrangeiros. (E preciso dizer: eu detesto essa palavra, porque acredito de verdade que todo livro merece ser lido, sem rivalidade.)

Mas, na prática, é isso que acontece. Perdi as contas de quantas resenhas vi no Instagram sobre os livros da Colleen Hoover (inclusive, isso me fez até perder o interesse de tanto que vi). Enquanto isso, autores brasileiros precisam investir pesado — às vezes, mais do que têm — só para conseguir um espacinho de divulgação.

As divulgações e resenhas

Outro desafio que enfrentei — e que muitos outros escritores também enfrentam — foi a divulgação.

Em 2021, aprendi da forma mais difícil que, para divulgar um livro, você precisa de pelo menos um plano de marketing. E, enquanto estudava sobre o assunto, acabei me apaixonando por marketing. Hoje, sou redatora em uma agência de marketing digital e me formei nessa área na faculdade.

Só que na época, eu não imaginava o quanto seria exaustivo e CARO tentar divulgar um livro. E a frustração é ainda maior quando você investe tempo e energia e, no final, não vê resultado nenhum.

Quando lancei Coração de Escritora, fiz de tudo para divulgar ao máximo: anúncios, conteúdos, parcerias. Meu primeiro livro alcançou pelo menos 700 mil pessoas, mas o retorno foi ZERO. E a razão? Simples:

1. Autora iniciante (ou seja, uma total desconhecida);

2. Literatura brasileira.

Afinal de contas, que iria investir quase 40 reais no livro de uma completa desconhecida? É mais fácil comprar os livros que estão bombando no Tik Tok. Mas, uma coisa é certa: eu dei o meu melhor naquela época, e sigo dando o meu melhor hoje.

E por falar em divulgação, tem outro perrengue que passei — com os resenhistas do Instagram. E confesso: até peguei um pouco de trauma. No lançamento de Coração de Escritora, eu ganhei alguns exemplares e decidi fazer parcerias para que as pessoas lessem e resenhassem o livro.

Enviei o livro para 5 pessoas... e elas simplesmente sumiram. Não fizeram a resenha, excluíram seus perfis e, no final, fui só eu quem perdi.

Hoje, raramente fecho parceria com bookstagrammers. Não porque acho que vão me dar um calote, mas porque eu não posso pagar 200 reais por uma resenha e ainda ter que enviar o livro. Além disso, nem sempre dá para ter certeza de que a divulgação vai gerar um retorno positivo.

Quero deixar claro que admiro e acompanho muito o trabalho dos bookstagrammers. A maioria faz um trabalho maravilhoso, e eu já conheci pessoas incríveis que me ajudaram bastante nesse processo. Mas, ainda assim, a realidade da divulgação de livros não é fácil.

O que os outros autores têm a dizer

Quando pensei em escrever esse artigo, percebi que só compartilhar minha opinião não seria o suficiente. Afinal, cada pessoa vive uma realidade diferente no mercado literário, e eu queria muito entender o ponto de vista de outros autores.

Então, abri uma caixinha de perguntas no Instagram e deixei o espaço aberto para que escritores compartilhassem os desafios que enfrentam no mercado literário brasileiro. Essas foram algumas das respostas que recebi:

"A falta de credibilidade enraizada pela escassez de investimento na arte brasileira." – @pedrohenniker
"Pouca aceitação dos leitores e editoras." – @littlereaders__
"Aceitação do tema do livro, investimento financeiro e pirataria." – @donamerlin_
"O trabalho não ser visto como algo sério." – @a.semente.livro
"Ter oportunidade e saber por onde começar." – @lidosporbeatriz

Como escritora, eu concordo com cada um desses pontos.

A desvalorização da arte, a pirataria, a falta de reconhecimento... tudo isso desanima. Já perdi a conta de quantas vezes vi perfis no Instagram ou grupos no Facebook distribuindo PDFs pirateados de livros. Já vi leitores recusarem meu livro por ele ser nacional, ou vi meu investimento em divulgação simplesmente não gerar nenhum retorno.

O mercado literário brasileiro é frustrante e extremamente cruel com escritores iniciantes. Nós só queremos ser lidos.

Coisas que eu queria que alguém tivesse me contado antes de eu ter entrado no mundo da literatura brasileira

Se você está lendo isso e quer ser escritor, vou te falar as coisas que eu queria que alguém tivesse me contado na época.

1. Muita gente vai te apoiar, mas muitos vão te deixar na mão
Eu perdi a conta de quantos “amigos” deixaram de me seguir no Instagram assim que comecei a falar sobre meu livro. Por outro lado, fui surpreendida por pessoas que eu jamais imaginaria, apoiando de forma genuína. A vida é cheia dessas reviravoltas.

2. Dói ver seus livros acumulados na estante ou sem nenhuma venda
Acaba acontecendo. E não é porque seu livro é ruim — é porque é realmente difícil fazer alguém apostar em um autor desconhecido.

3. Pensar em desistir vai ser um pensamento constante
Eu mesma já pensei em desistir várias vezes, mas não consigo deixar de ser uma escritora. Quando pensei na possibilidade e no que eu faria se eu desistisse, simplesmente me senti no espaço vazio do universo, à deriva.

4. Existem pessoas boas que vão te dar uma chance, lembre-se sempre delas
Meu maior sonho ultimamente tem sido ver pessoas que eu não conheço comprando os meus livros, e eu me lembro de todas essas pessoas com muito carinho. Guardem sempre o nome daqueles que apoiam e mostre a gratidão que você sente. Nada é mais reconfortante do que receber um voto de confiança de alguém que você não conhece, mas que acreditou em você. Faça com que a experiência de leitura dessa pessoa seja incrível, por isso, incentivo sempre a dar brindes junto com o livro. Faça valer a pena.

5. O seu trabalho pode alcançar lugares que você jamais imaginou
Quando lancei Coração de Escritora, enviei um exemplar para dois poetas brasileiros que eu admiro muito, hoje eles me seguem e sempre conversamos. A internet tem muito poder, e às vezes a sorte está do nosso lado.

6. Estude muito e tenha planos
Antes de mais nada, estude muito sobre o mercado. Estude marketing e tenha um plano de vendas. Crie conteúdo, tenha ideias e se inspire em outros autores. Veja como eles fazem. Se dedique para ter um bom resultado.

7. Reconheça o seu esforço
Uma coisa que eu sempre digo a mim mesma é: “CARA, você escreveu e lançou um LIVRO, ISSO É INCRÍVEL!!!”
Mesmo que seja difícil de vender, pense sempre que você foi capaz de escrever um livro e, sinceramente, isso é uma coisa incrível.

Concluindo

Para concluir este artigo, gostaria apenas de dizer que senti a necessidade de falar sobre todos os desafios que eu enfrentei nessa jornada — e ainda enfrento.

Para as pessoas de fora, pode parecer fácil, que estou ganhando rios de dinheiro, mas só quem é autor sabe o quão difícil é ser um autor.

Em resumo, ser escritor brasileiro não é nada fácil.
Temos que tomar as dores do preconceito com a literatura, somos desvalorizados por sermos escritores iniciantes, pagamos caro por divulgações que dão zero resultado e temos que ver nossos livros acumulados na estante por não termos oportunidade.

Além de escrever o livro, ainda temos que fazer o marketing dele.
E é, sim, uma caminhada desgastante e que cansa muito.
Mas a verdade é que ser artista, no geral, no Brasil é difícil demais.

Então, o meu recado final é: se você quer ver o cenário da literatura brasileira mudar, consuma, recomende e leia muitos autores brasileiros!

Dê chance aos novos autores, veja o que eles têm a dizer — eles merecem ser lidos.

Até o próximo artigo! ^-^